Ex-Vasco Pablo Barros: Trote de Romário, Camp Nou e a Jornada como Treinador

A emoção de um sonho concretizado ecoou no mítico Camp Nou. Parado no círculo central do gramado, antes de um confronto entre Barcelona e Málaga, o ex-jogador Pablo Barros, com o telefone em mãos, proferiu ao pai uma frase que selava uma vitória pessoal: ?Pai, a gente venceu?. A cena, que remete à realização de um anseio infantil de atuar no futebol europeu, é um testemunho da jornada de um atleta forjado nas categorias de base do Vasco da Gama, que se viu competindo ao lado de nomes como Messi, Cristiano Ronaldo e Henry.

Ao longo de quinze anos dedicados à lateral direita e ao meio-campo, Pablo acumulou um acervo de memórias e êxitos. Hoje, o ex-atleta, que também teve uma passagem notável pelo Cruzeiro, compartilha esses momentos enquanto lidera uma equipe sub-15 na segunda divisão do Campeonato Mineiro, solidificando sua identidade no esporte que o moldou.

Os Primeiros Passos em São Januário e o Clima Político

Antes de desbravar os campos europeus, Pablo Barros deu seus primeiros passos no futebol profissional pelo Vasco . Sua ascensão, entre 2007 e 2008, coincidiu com um período de intensa turbulência política no clube, que culminaria no primeiro rebaixamento da equipe à Série B do Campeonato Brasileiro.

Embora tenha disputado apenas dezenove partidas pelo Cruzmaltino, o ex-lateral-direito atribui as dificuldades daquele ano a fatores externos ao campo de jogo.

?Eu subi para o profissional em 2008 e peguei um ambiente político muito conturbado. Roberto Dinamite lutava para entrar na presidência e Eurico Miranda estava na briga para não sair. O clima no clube era de muita tensão.?

Pablo recorda que sua saída para o Zaragoza ocorreu com o time em uma posição razoável na tabela, o que o isentou de vivenciar diretamente o rebaixamento. Contudo, a experiência do ambiente conturbado foi marcante para ele:

?No profissional eu joguei apenas 19 partidas e fui negociado com o Zaragoza. Quando saí, estávamos em sétimo lugar no Brasileiro. Quando voltei no final do ano para passar férias, o clube estava rebaixado. Não vivi o ambiente de rebaixamento, pois quando saí estávamos bem, mas vivi o ambiente político muito agitado e acredito que tenha influenciado em campo. Uma pena, pois sou vascaíno e é o clube que me formou como homem e atleta.?

Apesar do cenário desafiador, Pablo guarda com apreço as recordações de sua chegada ao elenco principal, incluindo a convivência com grandes nomes do futebol brasileiro.

O Inesquecível Trote de Romário

Entre as lembranças mais vívidas de seus tempos em São Januário, o ex-lateral destaca um episódio peculiar envolvendo Romário. No ano anterior à sua ascensão definitiva, Pablo já frequentava o vestiário da equipe principal e, como todo novato, foi alvo de um ?trote? orquestrado pelo elenco. O protagonista dessa história seria, ninguém menos, que o ?Baixinho?.

?Em um dos meus primeiros treinos no profissional, me mandaram ir para o vestiário. Quando cheguei, estavam todos sentados esperando o treinador falar. Os armários não tinham nomes, nem foto. Então sentei em um armário que estava vazio. Passou um tempo, ele chegou. Depois percebi que aquele armário bem centralizado estava vazio e comecei a pensar no porquê. Era o armário dele. Os jogadores não falaram nada.?

A narrativa prossegue com a chegada de Romário , que com seu sorriso característico, dirigiu-se ao jovem:

?Ele entrou, sorriu e falou 'Chegou bem no profissional, hein moleque?'. Todos riram no vestiário, e ele completou: 'Então, levanta!'. Levantei, pedi desculpas e sentei no chão. Ele não aceitou e mandou eu sentar em outro armário e ainda brincou com o grupo falando que eles foram traíras comigo de não me avisar. Foi tudo bem descontraído e no final ele me falou 'Bom treino, seja bem-vindo'. Fiquei extremamente feliz.?

Esse momento descontraído, com uma lenda do futebol, marcou o início de sua jornada entre os profissionais e forjou a personalidade do jovem atleta.

A Conquista da Europa e Encontros Memoráveis

Aos 19 anos, Pablo Barros realizou o sonho de jogar na Europa ao ser negociado com o Real Zaragoza. Pouco depois, foi emprestado ao Málaga, onde vivenciou uma temporada extraordinária entre 2008 e 2009.

?Minha chegada à Espanha já foi, por si só, a realização de um sonho. Poder viver aquele momento e jogar contra os melhores clubes e jogadores do mundo foi algo marcante e inesquecível. Enfrentar nomes como Messi, Eto?o, Henry, Xavi, Iniesta, Sérgio Ramos, Robben? se eu fosse citar todos, ficaríamos aqui por um bom tempo.?

A equipe do Málaga, em uma campanha que se tornou histórica para o clube, alcançou a oitava posição em La Liga. Os dados daquela temporada refletem o desempenho notável:

Foi durante essa passagem que Pablo protagonizou o momento descrito no início, quando ligou para o pai do centro do Camp Nou. O feito de um ?menino do interior se tornando realidade, ali, diante do mundo? simbolizava a superação e a concretização de um objetivo de vida.

Ainda na Espanha, Pablo teve encontros curiosos e marcantes. Em sua passagem pelo Nástic, na segunda divisão, foi surpreendido ao jantar com José Mari, colega de clube, e descobrir que o primo "cantor" era ninguém menos que Sergio Ramos, o renomado zagueiro do Real Madrid.

?Chegando lá, descubro que o primo "cantor" era simplesmente o Sérgio Ramos, zagueiro do Real Madrid. Para quem não sabe, Sérgio também é cantor e já gravou alguns álbuns lá na Espanha. Rimos muito disso e pude conhecer um dos maiores zagueiros do mundo na posição.?

Outro momento inesquecível ocorreu no Camp Nou, quando Daniel Alves, que compartilhava o mesmo empresário de Pablo , o apresentou pessoalmente a todo o elenco do Barcelona. Pablo expressou sua surpresa com a estatura de Thierry Henry e a fluência de Samuel Eto'o em português, destacando a realização de mais um sonho.

Destaques no Futebol Brasileiro e o Legado em Clubes

Após a experiência europeia, Pablo Barros retornou ao Brasil, onde continuou a construir uma trajetória de relevância. Em 2010, emprestado ao Cruzeiro, viveu um dos ápices de sua carreira. Sob o comando de Cuca, o lateral-direito foi peça fundamental da equipe, que ficou conhecida como o "Barcelona das Américas" devido ao futebol envolvente e às goleadas aplicadas, especialmente na Libertadores.

Apesar da eliminação precoce na Libertadores, a equipe conquistou o Campeonato Mineiro, deixando uma marca positiva para Pablo :

?Naquele ano eu fui o jogador que mais jogou na Libertadores, mais até que o Fábio, goleiro. Fui titular e joguei todos os jogos. Infelizmente em um jogo atípico, fomos eliminados pelo Once Caldas dentro de casa, mas conseguimos ser campeões no Campeonato Mineiro. Minha passagem pelo Cruzeiro foi ótima e no final do contrato, o Zaragoza me pediu de volta.?

Em 2016, Pablo voltou a Minas Gerais para mais uma conquista estadual, desta vez pelo América-MG. A vitória, após dezesseis anos de jejum, foi especialmente significativa:

?Em 2016 vivemos algo incrível. Eram 16 anos sem ganhar o Estadual. Aí o América vence Cruzeiro na semi e Atlético na final, para não deixar dúvidas de que merecíamos ser campeões naquele ano.?

Seu último grande momento de destaque como jogador foi no Fortaleza, onde teve papel crucial na ascensão do clube cearense. Pablo participou ativamente das campanhas que levaram o Leão do Pici da Série C para a Série B do Campeonato Brasileiro.

?Minha passagem no Fortaleza foi marcante também. Cheguei ao clube em um momento conturbado e desacreditado. Saí da primeira divisão do Campeonato Brasileiro para jogar a Série C. Meu empresário não queria que eu fosse. Conversei com minha esposa e aceitamos o convite. Depois de nove anos de tentativas do clube, subimos da Série C para a Série B do Brasileiro. Joguei todos os jogos dessa campanha.?

A temporada de 2018, ano do centenário do Fortaleza, foi coroada com a chegada de Rogério Ceni e o título da Série B, com Pablo sendo um dos capitães. O reconhecimento e as memórias dessa fase são inestimáveis para ele.

?A temporada 2018 era a do ano do centenário do clube e chegou Rogério Ceni. Fui um dos três capitães do grupo. Foi outra campanha histórica: subimos com mais de três rodadas de antecedência e fomos campeões da Série B. Tem fotos minha espalhadas pelas paredes do clube e o reconhecimento de todos. Isso não tem preço.?

Ao longo de sua carreira, Pablo Barros atuou com grandes nomes do futebol, como Edmundo, Loco Abreu, Ricardo Oliveira, Diego Milito, Obina, Leandro Amaral, Borges e Souza Caveirão, além de passagens por clubes como Olaria, Figueirense, Bahia, Tombense, Mogi Mirim, Botafogo-PB, São Bento, Operário-PR, Oeste e Betim.

A Nova Missão: De Atleta a Treinador Formador

De volta ao presente, Pablo Barros encerra um ciclo como jogador para iniciar outro, agora à beira do campo. A transição para a função de treinador foi um processo amadurecido, que começou durante a pandemia de 2020, com a realização de cursos e a obtenção da Licença B da CBF, credencial oficial para atuar nas categorias de base.

Atualmente, Pablo Barros comanda o time sub-15 do Sport Club Juiz de Fora, na segunda divisão do Campeonato Mineiro da categoria. Sua equipe tem demonstrado um desempenho notável na primeira fase, com uma campanha quase impecável, liderando o grupo com vinte e oito pontos em trinta possíveis.

A felicidade com a nova carreira é evidente, e a motivação de Pablo Barros remonta às suas próprias experiências como atleta:

?Estou muito feliz com esta nova experiência como treinador. Antes mesmo de encerrar minha carreira como atleta, eu já sentia prazer em orientar os jogadores mais jovens. Quando subi para o profissional no Vasco, fui muito ajudado por atletas experientes como Morais e Beto. Aquilo marcou minha trajetória e me fez prometer que, no futuro, eu faria o mesmo por quem estivesse chegando.?

Com sua equipe classificada para o Octogonal Final, o Sport Club de Pablo Barros se prepara para a estreia na fase decisiva, demonstrando que a paixão pelo futebol e o desejo de formar novos talentos continuam a impulsionar sua jornada, agora em uma nova e promissora função.