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Vasco SAF: Entenda a Disputa dos R$ 1 Mil por Ações da 777 – Pedrinho vs. Salgado
Por Redação FutVasco em 25/07/2025 13:21
O cenário político do Club de Regatas Vasco da Gama permanece efervescente, com a atual gestão e a anterior engajadas em uma contundente troca de acusações. O epicentro da discórdia reside na possibilidade de o clube associativo ter reavido o controle acionário da Vasco SAF por um valor simbólico de R$ 1 mil, conforme uma cláusula contratual com a 777 Partners. As declarações do presidente Pedrinho e a pronta refutação do ex-presidente Jorge Salgado lançam luz sobre os bastidores da relação entre o clube e a empresa americana, expondo diferentes interpretações sobre os fatos.
Durante uma coletiva de imprensa realizada na última quinta-feira, o presidente Pedrinho trouxe à tona uma grave alegação. Ele afirmou que seu antecessor, Jorge Salgado, teria negligenciado a ativação de uma cláusula no contrato da SAF que permitiria ao Vasco recomprar as ações da 777 Partners por apenas R$ 1 mil. Segundo Pedrinho, essa oportunidade teria surgido em virtude de um aporte financeiro não realizado pela empresa. O objetivo de sua gestão, segundo ele, é "reconquistar o torcedor" em meio a desafios financeiros, incluindo dívidas de luz e IPTU.
A menção à cláusula surgiu quando Pedrinho foi questionado sobre a estratégia de contratações para a janela de transferências. Ele detalhou a acusação, indicando que a inação de Salgado impediu o clube de reassumir a posição majoritária na SAF. "Na cláusula do contrato feito com a 777, num dos aportes que não foi feito, o ex-presidente poderia com R$ 1 mil depositar e ter as ações que não foram integralizadas de volta. Com isso o clube voltaria a ser majoritário. Ele não exerceu isso", declarou Pedrinho, apontando diretamente para Jorge Salgado.
A Contranarrativa de Jorge Salgado: Quem Perdeu a Oportunidade?
Em resposta às afirmações de Pedrinho, Jorge Salgado, que comandou o Vasco de janeiro de 2021 a janeiro de 2024, veementemente negou as acusações ao portal ge. Salgado argumentou que a situação em sua gestão foi devidamente regularizada pela 777 Partners dentro do prazo contratual, impedindo qualquer ação de recompra naquele momento. Ele inverteu a acusação, afirmando que a verdadeira oportunidade de reaver as ações por R$ 1 mil foi desperdiçada pela própria gestão de Pedrinho.
Salgado esclareceu que, durante seu mandato, a 777 Partners efetivou todos os aportes previstos. Houve, de fato, um atraso no pagamento do aporte de setembro de 2023, o que levou o Vasco a notificar formalmente a empresa. Contudo, a 777 regularizou a situação, efetuando o pagamento com juros de mora dentro do prazo de 30 dias estabelecido pelo contrato. Essa regularização, segundo Salgado, impossibilitou a recompra das ações pelo clube naquele instante. "Ao contrário do que disse o atual presidente, na verdade quem jogou fora a oportunidade de recomprar as ações não integralizadas da Vasco SAF por 1 mil reais foi ele próprio, ao decidir romper unilateralmente o contrato três meses antes da data de vencimento do aporte de R$ 300 milhões no início de setembro de 2024", acusou Jorge Salgado.

O Ponto de Convergência e Divergência na Recompra das Ações
A complexidade da disputa reside na interpretação das cláusulas contratuais e nos momentos cruciais para a ação. Ambos os lados reconhecem a existência de uma cláusula que permitiria a recompra por R$ 1 mil em caso de inadimplência, mas divergem fundamentalmente sobre quem teve a janela de oportunidade e por que ela não foi aproveitada. A gestão de Pedrinho, por sua vez, acionou a 777 Partners na Justiça do Rio de Janeiro, resultando em uma liminar favorável que afastou a empresa americana do controle da SAF vascaína em 15 de maio de 2024.
Para maior clareza sobre as versões apresentadas por Pedrinho e Salgado, a tabela a seguir compara os principais pontos de controvérsia:
Ponto de Controvérsia | Versão de Pedrinho (Presidente Atual) | Versão de Jorge Salgado (Ex-Presidente) |
---|---|---|
Oportunidade da Recompra por R$ 1 Mil | Salgado não exerceu a cláusula em um aporte não realizado pela 777, perdendo a chance de o clube voltar a ser majoritário. | Não houve oportunidade para Salgado; a 777 regularizou o aporte de Set/2023 em 30 dias. A cláusula só poderia ser exercida se o atraso não fosse remediado. |
Aporte de Setembro de 2023 | A 777 não pagou o aporte, o que geraria a cláusula de recompra. | A 777 atrasou, foi notificada, mas pagou o valor com juros de mora dentro do prazo de 30 dias, inviabilizando a recompra naquele momento. |
Próxima Oportunidade de Recompra | Não menciona explicitamente uma próxima oportunidade para Salgado. | A próxima oportunidade seria com o aporte de R$ 300 milhões em Setembro de 2024. Salgado afirma que Pedrinho "jogou fora" essa chance ao romper o contrato unilateralmente antes da data. |
Motivação para Não Agir (segundo Pedrinho) | Salgado não agiu porque, ao reaver o clube, assumiria mais dívidas de contratações feitas pela 777. | Salgado afirma que agiu conforme o contrato, e que a recompra não foi possível devido à regularização da 777. |
Ação Judicial contra 777 | Necessária para proteger o Vasco de uma "massa falida", apesar das dificuldades financeiras que recairiam sobre a gestão atual. | Desnecessária e arriscada. Salgado sugere que bastava aguardar o aporte de Set/2024 para exercer a compra sem litígios, ou que a falência da 777 resultaria no controle do CRVG (69%) e cláusula de drag along facilitaria novos investidores. |
As Declarações Completas: Contexto e Justificativas
O teor completo das declarações de ambos os presidentes revela as nuances de suas argumentações. Pedrinho detalhou o cenário financeiro que sua gestão herdou e a motivação por trás da ação judicial:
? As transferências que não foram pagas pela 777 tem custo de contratação. Para você ter ideia, a 777 gastou R$ 300 milhões em contratações e não pagou R$ 200 milhões. Essa conta é nossa. "Ah, mas ninguém colocou uma arma na sua cabeça para eu assumir". Eu fui eleito para ser presidente da associação. Certo? Mas na cláusula do contrato feito com a 777, num dos aportes que não foi feito, o ex-presidente poderia com R$ 1 mil depositar e ter as ações que não foram integralizadas de volta. Com isso, o clube voltaria a ser majoritário. Ele não exerceu isso, e tinha uma outra cláusula que ele poderia esperar os 30 dias para a execução do pagamento e isso foi feito. Por que ele não executou os R$ 1 mil e teve as ações de volta? Porque ele vende o clube numa situação financeira difícil e já tinha um investimento feito em contratações da 777 no qual se ele pega o clube de volta ele teria mais dívida ainda.
? A gente teve que fazer um movimento contrário a esse. Tivemos que entrar com a ação sabendo que essa dificuldade financeira cairia no meu colo. E eu não pensei em nenhum momento... Senti muito medo porque juridicamente eu não entendo, é uma briga grande, dura, confiando no meu jurídico a gente entrou com a ação justamente para proteger o Vasco de cair numa massa falida, como vocês viram. E aí a gente entra nesse cenário. E, quando a gente fala nesse cenário, as pessoas ficam falando que é bengala, isso me chateia. Que não tenha viés politico, que tenha o entendimento do que é realidade. A realidade é que tem muitas coisas que a gente paga que poderiam ser utilizadas para contratações.
Jorge Salgado, por sua vez, foi categórico em sua defesa, oferecendo uma perspectiva legal e estratégica sobre os eventos:
"Com relação à entrevista coletiva concedida pelo presidente Pedrinho ontem, 24/7, entendo serem necessários os seguintes comentários a fazer:
1.Não é verdade que eu, enquanto presidente, teria tido a oportunidade de exercer a compra das ações não integralizadas da Vasco SAF por 1 mil reais, por um suposto não pagamento de um aporte da 777 Partners, e que teria decidido não o fazer.
2.No período em que presidi o clube, a 777 fez todos os aportes previstos em contrato. Em setembro de 2023, a 777 atrasou o pagamento do aporte previsto para aquele mês, o que ensejou uma notificação formal do CRVG iniciando o procedimento que poderia levar à compra das ações não integralizadas por 1 mil reais. O contrato estabelecia que após a notificação, caso a situação não fosse remediada pela 777 em 30 dias, o CRVG poderia efetivamente exercer a compra por 1 mil reais. Imediatamente após a notificação, a 777 pagou o valor do aporte, com juros de mora, impossibilitando a recompra das ações pelo CRVG naquele momento.
3.É importante ressaltar que o contrato também só permitia que o prazo de 30 dias para a remediação de atraso de pagamento fosse exercido por uma única vez. Isso significa que em qualquer outro inadimplemento da 777 o CRVG poderia exercer de imediato a compra das ações não integralizadas por 1 mil reais.
4.Ao contrario do que disse o atual presidente, na verdade quem jogou fora a oportunidade de recomprar as ações não integralizadas da Vasco SAF por 1 mil reais foi ele próprio ao decidir romper unilateralmente o contrato três meses antes da data de vencimento do aporte de R$ 300 milhões no início de setembro de 2024. Como aquela altura já eram públicas as dificuldades financeiras da 777 Partners, bastava aguardar a data de vencimento do aporte e exercer a compra no dia seguinte, sem correr os riscos reputacionais, econômicos e jurídicos decorrentes litígios e arbitragens imprevisíveis e infindáveis.
5.A narrativa de que ?a gente entrou com a ação para justamente para proteger o Vasco de cair numa massa falida como vocês viram aí? também não se sustenta na realidade. No caso de falência da 777 Partners, as únicas ações com risco de arresto por credores seriam os 31% já integralizados e pagos pela 777. Neste caso o CRVG estaria no controle da empresa com 69% do capital social. O contrato, que se tornou público pelo processo judicial, previa também uma cláusula de drag along, que obrigava a 777 Partners, ou seu sucessor, a vender suas ações nas mesmas condições acordadas pelo CRVG com o futuro investidor da Vasco SAF. Um quadro que facilitaria a atração de novos investidores, se fosse esse o desejo da atual diretoria".
O Futuro da SAF e as Implicações das Acusações
A disputa entre Pedrinho e Salgado transcende a mera troca de farpas políticas; ela revela a complexidade da transição da SAF e os desafios que o Vasco enfrenta. Enquanto Pedrinho aponta para um passado de oportunidades perdidas e a necessidade de uma ação judicial drástica para salvaguardar o clube, Salgado defende sua gestão e sugere que a atual diretoria optou por um caminho mais arriscado do que o necessário. O desdobramento dessa controvérsia, e a verdade sobre quem realmente "jogou fora" a chance de reaver o controle da SAF, continuarão a moldar o futuro do Vasco da Gama.
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