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Vasco: Entenda o pedido de R$ 80 milhões e a estratégia para blindar Rayan
Por Redação FutVasco em 23/09/2025 03:11
O Club de Regatas Vasco da Gama deu um passo significativo em sua complexa jornada de reestruturação financeira. Em uma petição formalmente direcionada à 4ª Vara Empresarial do Rio de Janeiro, a instituição pleiteou a aprovação judicial para a contratação de um financiamento na modalidade DIP (Debtor in Possession), cujo montante pode alcançar até R$ 80 milhões. Conforme detalhado no documento, esses recursos serão destinados exclusivamente a cobrir despesas operacionais essenciais, como folha de pagamento, compromissos com fornecedores estratégicos e obrigações trabalhistas e fiscais, tudo isso enquanto o processo de recuperação judicial está em andamento.
A motivação por trás dessa medida foi esmiuçada por Felipe Carregal, vice-presidente jurídico do Vasco , em entrevista. O advogado esclareceu que o fluxo de caixa da SAF foi severamente impactado por dívidas que ele classificou como "irresponsáveis", contraídas pela 777 Partners, muitas das quais com vencimento iminente. Para Carregal, o empréstimo se tornou indispensável para reequilibrar as finanças, permitindo ao clube manter seus ativos valiosos, como o promissor atacante Rayan, que se destacou na temporada e cujo nome já havia sido cogitado em relatórios judiciais como uma possível venda para aliviar o caixa.
Estratégia Financeira: Empréstimo e Manutenção de Ativos
O vice-presidente jurídico ressaltou a previsão dessa operação dentro do planejamento inicial. "O fluxo de caixa foi comprometido por dívidas assumidas de forma irresponsável pela 777, muitas delas com vencimento imediato. Por isso, o empréstimo ? necessário para equilibrar as contas sem abrir mão da responsabilidade financeira ? já estava previsto tanto no pedido de recuperação judicial quanto no plano apresentado. Essa necessidade foi exposta de forma clara e transparente em todas as apresentações internas realizadas antes da formulação do pedido de recuperação judicial, inclusive para conselheiros e demais poderes do clube. Nenhuma novidade, portanto", afirmou Carregal.
Ele também fez questão de diferenciar a gestão atual de práticas passadas no que tange à venda de jovens talentos. "Sobre uma potencial negociação do Rayan para aliviar o caixa, vale ressaltar que a venda de jovens talentos do clube para pagar dívidas foi prática comum no passado. A atual diretoria, ao contrário, fez um esforço para manter o jogador, peça importante do elenco e ativo estratégico de longo prazo", completou o dirigente, sublinhando a importância de Rayan , elogiado inclusive por Fernando Diniz como um "jogador raríssimo" após seu gol contra o Flamengo.

A Garantia do Empréstimo: Ações da SAF
A estrutura da operação financeira estabelece como garantia 20 mil ações ordinárias de classe A, que correspondem a 20% do capital social da Vasco SAF, atualmente sob a titularidade do CRVG. É fundamental destacar que essas ações integram o ativo não circulante do clube e sua utilização como garantia exige expressa autorização judicial.
A escolha desses 20% do capital social da SAF, pertencentes ao CRVG, como garantia, foi uma decisão estratégica da diretoria vascaína para evitar o comprometimento de futuras fontes de receita. Segundo Carregal, a intenção é não atrelar cotas de televisão, contratos de patrocínio ou futuras negociações de atletas à quitação do empréstimo. O valor da garantia não se limita apenas aos R$ 80 milhões do empréstimo mais os juros, como explicou o vice-presidente jurídico.
"Em operações como essa, em que a devedora está em recuperação judicial, o valor da garantia oferecida sempre supera o montante financiado, considerando, naturalmente, o valor do empréstimo acrescido dos juros fixados e da devida correção. Importante destacar que garantia não é ?valuation? nem alienação. São Januário e outras sedes já foram oferecidos como garantia em diversas operações e execuções no passado", detalhou Carregal, contextualizando a prática comum em processos de recuperação.
Condições do Financiamento e Obstáculos Legais
O financiamento proposto prevê um período de carência de 12 meses e um prazo de quitação que pode se estender por até três anos, com juros fixos de 7% ao ano, acrescidos da correção pelo CDI. A diretoria do Vasco assegura que o acordo foi meticulosamente elaborado ao longo de meses, com o auxílio de consultores especializados, e que não impactará as principais fontes de receita do clube.
No documento protocolado, o Vasco reforça a "urgência e a essencialidade da medida", citando o reconhecimento do juízo da recuperação, que condicionou sua deliberação ao julgamento de um agravo da 777 Carioca LLC (já superado), e do Administrador Judicial, que acompanha de perto a situação econômico-financeira das Recuperandas. No entanto, o processo enfrentou um revés recente: na noite da última segunda-feira, o Ministério Público manifestou-se pela rejeição da autorização do empréstimo, argumentando que o contrato ainda não foi formalmente celebrado e que seus termos definitivos permanecem desconhecidos. A decisão final sobre a liberação do financiamento agora repousa nas mãos da Justiça.
A Disputa pelas Ações da SAF e Dívidas Anteriores
Caso seja aprovado, o financiamento proporcionará ao Vasco um respiro financeiro crucial no curto prazo, enquanto as negociações com credores e o processo arbitral contra a 777 prosseguem. A composição acionária da SAF vascaína é um ponto central de discórdia. Dos 100% da SAF, 31% foram integralizados pelos investidores norte-americanos, enquanto 30% permanecem sob a propriedade do CRVG. Os 39% restantes estão atualmente sob disputa em um processo de arbitragem em curso na FGV.
Dentro da fatia de 30% pertencente ao Vasco , 10% já foram penhorados em uma ação judicial movida pela Andrade Figueira Advogados. Este escritório de advocacia prestou serviços de assessoria jurídica durante a campanha presidencial de Jorge Salgado em 2020 e continuou a atuar para o clube tanto na gestão do ex-presidente quanto durante o período da 777. A dívida de honorários cobrada pelo escritório soma R$ 3.563.918,96.
Os 20% restantes da participação do Vasco foram oferecidos como garantia para o empréstimo, conforme detalhado anteriormente. É crucial frisar que esses 20% permanecem sob posse do clube, servindo apenas como uma garantia ao credor para a movimentação financeira. Carregal também esclareceu que esses 20% já haviam sido comprometidos em uma gestão anterior. "Vale lembrar, ainda, que os 20% das ações da SAF foram comprometidos pela gestão passada para cobrir dívidas ocultas de até R$ 200 milhões, justamente o valor omitido do balanço do clube antes da operação com a 777. Como o clube não teria dinheiro para pagar esse ?passivo oculto?, a 777 ficaria com 90% da SAF (70% + 20%). Com o afastamento dos americanos, a suspensão dos contratos e o deferimento do pedido de recuperação judicial, esses 20% estão disponíveis", concluiu o vice-presidente jurídico, traçando um panorama da complexa situação acionária e financeira do Vasco .
Para maior clareza sobre a distribuição atual das ações da Vasco SAF, observe a tabela a seguir:
Entidade | Participação Acionária | Status Atual |
---|---|---|
777 Partners | 31% | Integralizado |
CRVG | 30% | 10% penhorados, 20% como garantia de empréstimo |
Disputa Arbitral | 39% | Em processo de resolução na FGV |
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