Ex-Flamengo no Vasco: Revelações da Gávea que Brilharam em São Januário

O futebol carioca é um palco de histórias e paradoxos, onde a paixão e a rivalidade se entrelaçam de maneiras surpreendentes. O clássico entre Vasco e Flamengo, marcado para este domingo pela 24ª rodada do Campeonato Brasileiro, promete ser mais um capítulo intenso dessa narrativa. Para Matheus França, o meia-atacante de 21 anos que agora veste a camisa 9 do Vasco , o confronto terá um sabor especial: será o reencontro, pela primeira vez na carreira, com o clube que o formou, o Flamengo.

A situação de França não é inédita. Ele é o mais recente nome em uma longa lista de atletas que, após serem revelados na Gávea, atravessaram a ponte da rivalidade para defender as cores do Cruzmaltino. Essa trajetória, por vezes controversa, por vezes vitoriosa, é um testemunho da complexidade das carreiras no esporte e da dinâmica peculiar do futebol no Rio de Janeiro. Neste elenco vascaíno atual, inclusive, Matheus França não está sozinho, compartilhando o vestiário com outros dois companheiros que também trilharam esse mesmo caminho. O levantamento a seguir detalha dez nomes que, entre êxitos e passagens discretas, deixaram sua marca em São Januário após a formação rubro-negra.

Legados Históricos: Pioneiros da Transição

Entre os nomes que primeiro ousaram cruzar essa fronteira clubística está Tita. Fundamental para o Flamengo na conquista da Libertadores e da Copa Intercontinental em 1981, o atacante protagonizou uma transição notável em 1987. No Vasco , Tita não apenas se consolidou como ídolo, mas também gravou seu nome na história ao marcar o gol do título do Campeonato Estadual de 1987, justamente em uma final contra seu ex-clube, solidificando sua nova identidade e colecionando diversos troféus em São Januário.

Andrade, uma lenda do Flamengo com busto na Gávea, também teve um período vestindo a camisa cruzmaltina. Após uma década ininterrupta com o Rubro-Negro e uma breve experiência de 17 partidas na Roma, o meia retornou ao Rio de Janeiro para atuar pelo Vasco entre 1989 e 1990. Foram 47 jogos, e Andrade foi parte integrante do elenco campeão brasileiro de 1989, antes de retornar ao Flamengo no final daquele ano, consolidando uma passagem que, embora curta, foi vitoriosa em São Januário.

Jorginho, cujo berço foi o America-RJ, foi contratado ainda jovem pelo Flamengo em 1984, sendo projetado nacionalmente pelo clube. Após uma carreira brilhante no Brasil e no exterior, o craque retornou para defender o Vasco . Em 2000, Jorginho foi uma peça-chave na geração que conquistou o Campeonato Brasileiro e a Copa Mercosul. Sua ligação com São Januário se estendeu, e ele ainda voltaria anos depois como treinador, mostrando a profundidade de sua conexão com o clube.

A Geração Vencedora: Nomes de Peso no Cruzmaltino

Gilberto, assim como Jorginho, iniciou sua jornada no America-RJ, mas foi no Flamengo, a partir de 1995, que ganhou projeção nacional. Lateral-esquerdo veloz e técnico, construiu uma carreira sólida em grandes clubes e na Seleção Brasileira. Em 2000, sua chegada ao Vasco o colocou ao lado de craques como Romário, Juninho Paulista e Juninho Pernambucano. Gilberto viveu um período histórico no Cruzmaltino, sendo parte fundamental das conquistas do Campeonato Brasileiro e da Copa Mercosul daquele ano.

Júnior Baiano, um dos expoentes da "geração de ouro" da base do Flamengo nos anos 90, conquistou a primeira Copinha do clube e, como profissional, levantou as taças da Copa do Brasil em 1990 e do Campeonato Brasileiro em 1992. Sua trajetória, contudo, ganharia um capítulo marcante no Vasco entre 2000 e 2001, onde também foi protagonista de títulos de grande envergadura, como a Copa Mercosul e o Campeonato Brasileiro, mostrando sua capacidade de brilhar em ambos os lados da rivalidade.

Marcelinho Carioca, o "Pé-de-Anjo", é predominantemente lembrado como ídolo do Corinthians, mas sua carreira teve início no Flamengo. Em 2003, surpreendeu o cenário esportivo ao desembarcar em São Januário, deixando sua marca na conquista do Campeonato Carioca daquele ano. Sua maestria nas bolas paradas e a qualidade técnica foram elementos que deixaram saudade por todos os clubes por onde passou, incluindo a breve e vitoriosa passagem pelo Vasco .

Transições Recentes e o Paradoxo da Identidade

Fábio Baiano, com mais de 300 jogos pelo time principal do Flamengo e formação integral na Gávea, chegou ao Vasco em 2006. Sua chegada foi marcada por desconfiança da maior parte da torcida, dada sua profunda identificação com o rival. A pressão foi intensa, culminando em cânticos que pediam "respeito" à camisa em cada partida em São Januário. Em sua apresentação, o meia declarou:

Estou pronto para as cobranças. Quando decidi jogar no Vasco, sabia que isso aconteceria. Mas vou conquistar os torcedores dentro de campo.

Contrariando suas expectativas, sua passagem foi bastante efêmera, com apenas seis jogos e nenhum gol. Fábio Baiano transferiu-se para a Ponte Preta no segundo semestre daquele ano, sem deixar um legado duradouro em São Januário.

Andrezinho, outro produto da base rubro-negra de 2001, conquistou alguns campeonatos e deixou sua contribuição no Flamengo. Após uma carreira que o levou por diversos clubes brasileiros, incluindo passagens significativas por Internacional e Botafogo, o meia, já veterano, defendeu o Vasco em 2016. Em São Januário, conquistou o carinho dos vascaínos ao levantar a taça do Campeonato Carioca, adicionando mais um título à sua trajetória.

Hugo Moura, revelado no Flamengo e parte do elenco campeão da Libertadores em 2019, é um dos nomes atuais do Vasco que vivenciam uma situação similar à de Matheus França. Após passagens por Coritiba e Athletico-PR, o volante chegou ao Cruzmaltino em junho do ano passado. Rapidamente, Hugo se tornou uma peça-chave na equipe, sendo, ao lado de Vegetti, o atleta de linha com o maior número de jogos na atual temporada, com 46 partidas.

Lucas Freitas, natural do Rio de Janeiro, é outro membro do elenco atual que também teve sua formação nas categorias de base do Flamengo, onde permaneceu até 2020. Posteriormente, teve uma experiência internacional no Valladolid, da Espanha, onde fez sua estreia profissional, antes de retornar ao Brasil para atuar pelo Palmeiras. Sua presença no Vasco hoje adiciona mais um elo a essa complexa teia de transições.

Matheus França: O Mais Novo Capítulo na Rivalidade

Matheus França, o jovem meia-atacante de 21 anos, é o mais recente protagonista dessa saga de atletas que atravessam a rivalidade. Revelado na Gávea, onde demonstrou seu potencial, ele agora se prepara para enfrentar seu antigo clube, o Flamengo, vestindo a camisa do Vasco . Sua performance neste clássico será observada com atenção, não apenas pela importância da partida, mas também pelo peso simbólico de sua transição.

A história de Matheus França, Hugo Moura e Lucas Freitas , ao lado de tantos outros, ilustra a fluidez e as particularidades do mercado de transferências no futebol carioca. A tabela a seguir resume a trajetória desses jogadores que, em algum momento, vestiram as duas camisas, deixando um legado de vitórias, desafios e a complexidade de identidades divididas pela rivalidade.