1. FutVasco

Antonio Lopes Critica Escolha por Ancelotti, Explica Ausência de Romário em 2002 e Se Declara ao Vasco

Por Redação FutVasco em 16/09/2025 11:12

A voz experiente de Antonio Lopes ecoa no cenário do futebol brasileiro, trazendo à tona reflexões contundentes e revelações de uma carreira marcada por vitórias e decisões importantes. O profissional, que acumulou funções como delegado, preparador físico, treinador e dirigente, oferece uma perspectiva única sobre os rumos da Seleção Brasileira e sua inabalável conexão com o Club de Regatas Vasco da Gama.

Em uma entrevista abrangente, Lopes não hesitou em abordar temas espinhosos, desde a polêmica escolha por um técnico estrangeiro para comandar o Brasil até os bastidores da conquista do pentacampeonato mundial em 2002. Sua análise, permeada por um tom crítico e direto, desvela detalhes de sua passagem pela CBF e a forma como moldou equipes memoráveis, especialmente no clube de São Januário.

Ancelotti na Mira: Um Erro Estratégico da CBF?

A decisão da Confederação Brasileira de Futebol de buscar um treinador estrangeiro para a Seleção Nacional foi um dos pontos mais criticados por Antonio Lopes. Para o ex-coordenador técnico da equipe pentacampeã em 2002, essa escolha representa um equívoco fundamental na gestão do futebol brasileiro, uma vez que a história da Seleção é construída por talentos nacionais.

"Não devia ser contratado esse treinador. O Brasil foi pentacampeão com cinco treinadores brasileiros. Por que vai botar um treinador estrangeiro? Então, o erro foi aí. Não tenho nada contra esse treinador. Mas eu acho que não devia. Um erro da diretoria e do presidente", declarou Lopes, questionando a lógica por trás da decisão. Ele ainda reforça sua posição ao indagar a trajetória do técnico italiano: "Ele é italiano, né? Ele já foi técnico da seleção da Itália? Não foi. Então, alguma coisa tem de errado aí. Se o cara não foi treinador da seleção italiana, da seleção do seu país... Então, eu acho que tinha que ser um treinador brasileiro."

Vasco: A Paixão de Berço e o Legado de um Campeão

A ligação de Antonio Lopes com o Vasco da Gama transcende o profissionalismo; é uma história de amor que começou na infância. Influenciado por seu pai, um vascaíno fervoroso de origem portuguesa, Lopes cresceu imerso no universo cruzmaltino, frequentando São Januário desde cedo. Essa profunda conexão forjou uma carreira vitoriosa, culminando em conquistas históricas como o Campeonato Brasileiro de 1997 e a Copa Libertadores de 1998.

"Meu relacionamento com o Vasco é desde criança, né? Meu pai era vascaíno, tremendo vascaíno, era português. Nove irmãos, a gente nascia e meu pai já dava uma camisa do Vasco para a gente vestir. Então, eu sou vascaíno desde guri," recorda Lopes com nostalgia. Essa identificação o levou a concordar com a percepção popular que o aponta como o maior técnico da história do Gigante da Colina. "Concordo sim. A gente fica orgulhoso com isso, do time do coração, você passa a ser considerado como o melhor treinador. O que também fortalece um treinador é a conquista dos títulos. Então nós ganhamos, ajudei o Vasco a ganhar muitos títulos e títulos importantes."

Estratégias de Sucesso: Como Lopes Moldava Seus Times

A fórmula de Antonio Lopes para o sucesso no Vasco era clara: a combinação estratégica de jovens talentos da base com a experiência de jogadores consagrados. Essa mescla se mostrou fundamental para a construção de elencos multicampeões, como o de 1998, que levantou a taça da Libertadores.

"Eu pensava sempre na formação dos times bons que eu tive, pegar a garotada da base, os garotos que tivessem mais se destacando, e depois mandava contratar jogadores experientes, que o Vasco estivesse precisando para mesclar com essa garotada da base. Como foi o caso de Mauro Galvão, que nós colocamos lá no Vasco . Como foi o caso dos garotos da base, Felipe, Pedrinho, Géder, um monte de garoto que a gente promoveu," explica Lopes, evidenciando seu olhar apurado para a formação de equipes vencedoras.

Gerenciando Estrelas: A Arte de Lidar com os "Bad Boys"

Conhecido por sua habilidade em domar personalidades fortes, Antonio Lopes revela o segredo para gerenciar craques como Edmundo e Romário. Sua abordagem sempre foi pautada pela sinceridade e pelo diálogo, estabelecendo um canal de comunicação direto e eficaz com os atletas.

"Era usar de sinceridade com eles, né? Quando assumia sempre um time, principalmente o Vasco , eu chamava os jogadores para conversar, e usar de sinceridade, vamos trabalhar aqui, mas vamos trabalhar sempre, a gente conversando, e por isso eu consegui segurar esses caras," narra Lopes. Ele exemplifica sua metodologia com uma história envolvendo Romário e Edmundo: "Eu lembro também quando. Eu tinha o Edmundo, o Romário tava fora, né? Aí, o Eurico chegou perto de mim e disse: 'Quer o Romário ? Eu tenho o Romário na mão.' 'Quero, pô!' 'Mas, tem o Edmundo aí, como é que vai ser?' 'Não, deixa comigo!' Aí o Romário é malandro pra caramba. Quando ele chegou, o Edmundo que era o capitão do time, era o Edmundo que batia pênalti, né? Aí eu falei pra ele, chamei ele, digo: Romário , eu sei que você gosta de ser capitão, mas é o Edmundo e ele vai continuar como capitão. Aí ele falou: 'Não, eu não quero ser capitão não, eu quero ser soldado mesmo.' Espertão pra caramba (risos). Quero ser soldado mesmo, aí ficou tudo bem."

Lopes também compara a disciplina dos jogadores de sua época com a atualidade. "Eu concordo com o Tostão. Acho que antigamente o jogador não se cuidava tanto como se cuida hoje, né? Ia para as baladas. Hoje em dia não. Hoje em dia, o jogador sabe que está sendo vigiado também, né? Tem câmera pra todo lado, tem que segurar, porque sabe que vai chegar lá o conhecimento de todo mundo."

Romário no Vasco: O Início de uma Lenda

A ascensão de Romário no Vasco , sob o comando de Antonio Lopes, é um capítulo à parte na história do clube. Lopes relembra a confiança do jovem atacante, que já demonstrava seu potencial e ambição desde cedo, inclusive almejando o lugar de Roberto Dinamite.

"Eu lembro muito bem que eu passei ele (Romário) para o time de cima para ele começar a jogar, mas ele era banco, né? Aí, uma vez lá, ele falou pra mim: 'Pô, professor, Roberto já tá velho, eu já tenho que entrar no lugar dele.' 'Não, nada disso. Vai devagar que tu vai chegar lá, tu é bom jogador,'" conta Lopes. Ele detalha a entrada de Romário como titular, vestindo a camisa 11, e a adaptação tática para acomodar o craque ao lado de Dinamite e Mauricinho. "Romário, quando eu fui botar ele na ponta esquerda, ele falou: 'Mas eu não sou ponta esquerda.' 'Não, tu vai ser um atacante pelo lado esquerdo, vai ficar pelo lado esquerdo'. Aí ele ficou, né? 'Tu marca só até a risca central, não precisa marcar para trás'."

Eurico Miranda: O Dirigente Visionário e Amigo

A parceria entre Antonio Lopes e Eurico Miranda no Vasco é um marco na história do clube. Lopes descreve Eurico não apenas como um dirigente, mas como um amigo e um estrategista brilhante, que dominava os regulamentos e facilitava o trabalho da comissão técnica.

"Excelente. Eurico era um cara muito inteligente, né? Qualquer competição que a gente ia disputar, ele já sabia de tudo. Estudava o regulamento e te dizia o que você quer, o que você quer que faça e o caramba. Ajudava muito. Ele fazia acontecer o negócio ali. Ele ajudou muito o Vasco a ganhar título," elogia Lopes, desmentindo qualquer interferência de Eurico na escalação dos times: "O Eurico nunca pedia nada para mim, para eu escalar time. Podia ser com outros treinadores, comigo ele não fazia isso não. Ele não interferia em nada porque ele sabia, ele via até treino, o Eurico acompanhava tudo, então era com facilidade ele fazia a intervenção dele."

Os Bastidores da Copa do Mundo de 2002

A trajetória de Antonio Lopes na Seleção Brasileira que conquistou o pentacampeonato em 2002 é repleta de detalhes reveladores. Convidado para ser o "presidente da comissão técnica" por Ricardo Teixeira, Lopes esperava assumir o cargo de treinador, mas aceitou a função de coordenador.

"Eu esperava que eu fosse o treinador. Ele (Ricardo Teixeira) me chamou até lá no sítio dele, era no interior do estado. E quando eu fui para lá, eu estava crente que ia ser para técnico. Quando ele me fez o convite, dizia que eu ia mandar, eu ia ser o presidente da comissão técnica. Foi esse o termo que ele usou. Eu caí um pouquinho, mas ao mesmo tempo, eu digo 'pô, eu nunca trabalhei numa seleção e tudo... vou pegar isso mesmo.' Aí peguei," narra Lopes sobre o convite da CBF.

A decisão de não convocar Romário para o Mundial foi de Luiz Felipe Scolari, que priorizou outros atacantes. "Quem escolhia mesmo o grupo era o Felipão. Ele escolheu e não tinha ninguém que... A escolha era dele. Às vezes, pedia informação sobre um ou outro jogador, mas a escolha do grupo todo era dele. Não vi problema nenhum," esclarece Lopes, negando qualquer atrito com o "Baixinho".

Lopes também discorre sobre a saída de Emerson Leão da Seleção antes da chegada de Felipão. Ele atribui a demissão a uma interferência de Ricardo Teixeira, que teria pedido para não convocar os titulares para a Copa das Confederações de 2001, resultando em uma campanha ruim. "O Ricardo ligou dizendo 'não bota esses titulares não, porque eu vou requisitar a vinda deles antes aí para entregar a vocês, aí então você não faz aí. Não pode chamar.' Aí chamou uns jogadores mais inferiores, eu falei com o Leão, o Leão botou os jogadores, coitado. Aí nós fomos mal, perdemos. E aí, o Ricardo mandou tirar o Leão. Sacanagem dele, né?"

A convocação de Kleberson, um dos destaques do pentacampeonato, também teve a influência de Lopes. "O Felipe não conhecia, eu que falei pra ele, a gente tá precisando aí de um jogador igual a esse aí. Ele já tinha me mostrado os jogadores que ia convocar. Convoca esse jogador, que esse jogador é bom. 'Pô, mas eu não conheço, nem o Murtosa conhece.' 'Mas eu conheço, pô!' Aí ele convocou. Deu tudo certo. Foi importante para burro. Muito bom. Bom jogador pra caramba," revela Lopes, descrevendo Kleberson como "um jogador que marcava bem e tinha boa técnica, saía bem para o jogo. Ele era completo, era um jogador excepcional."

Talentos Lapidados: Dener e Juninho Pernambucano

A capacidade de Antonio Lopes de identificar e desenvolver talentos é inquestionável. Ele relembra a descoberta de Dener na Portuguesa, um jogador que chamou sua atenção imediatamente. "O Dener, eu estava trabalhando na Portuguesa, e chegou um conselheiro lá da Portuguesa, o Mário Fofoca, eu nunca mais esqueci, ele que acompanhava tudo. Aí, ele chegou um dia lá e disse 'professor, tem um garoto aí no Juvenil, garoto que joga bem pra caramba, bom jogador. Será que você não poderia dar uma olhada nele, não, pra ver?' Tá bom, não tem problema, manda ele vir aí que a gente vai dar uma olhada. Aí peguei num treino lá, pô, arrebentou, o Dener. Arrebentou," narra Lopes, destacando a necessidade de Dener de viver na concentração para focar em sua carreira.

Juninho Pernambucano, outro craque lapidado por Lopes, é elogiado por sua inteligência e talento inato nas cobranças de falta. "Ele já tinha. Aquele gol que ele fez contra o River. Ele batia bem na bola, ele que batia as faltas. Um cara muito inteligente, ele era um cara esperto pra caramba, um cara inteligente que fazia tudo. E era um bom garoto, um garoto disciplinado pra caramba, jogava muito. E as faltas era ele que batia mesmo, batia falta que ele chutava forte, chutava bem, sabia bater. E aquilo foi invenção dele mesmo, aquela falta. Foi invenção dele mesmo e acabou dando tudo certo."

A Seleção Ideal de Antonio Lopes e o Bate-Pronto

Ao longo de sua vasta carreira, Antonio Lopes comandou uma miríade de craques. A pedido do ge, ele montou sua seleção ideal, com um ataque de peso formado por Edmundo, Roberto Dinamite e Romário .

A seleção ideal de Antonio Lopes:

Germano; Jorginho, Aldair, Mauro Galvão e Felipe; Juninho Pernambucano , Geovani e Ronaldinho Gaúcho; Edmundo, Roberto Dinamite e Romário .

No quadro "Bate-pronto", Lopes oferece respostas rápidas sobre sua trajetória:

Tópico Resposta de Antonio Lopes
Ídolo da infância? Ademir Marques de Menezes.
Maior amigo do futebol? Eurico Miranda.
Melhor dirigente que trabalhou junto? Eurico.
Jogo mais marcante da carreira de treinador? O jogo do final da Libertadores.
Título mais importante? Libertadores de 1998.
Derrota mais dolorida? Real Madrid 2 x 1 Vasco (final do Mundial de Clubes de 1998).
Time que você mais gostava de vencer? Flamengo.
Time que você mais temia enfrentar? Flamengo também.
Qual o maior clássico que você passou? Vasco e Flamengo.
Maior craque que você treinou? Roberto Dinamite.
Maior craque que você enfrentou? Neymar.
Melhor jogador no Brasil hoje? Vini Jr.
Estádio mais bonito que você passou? Maracanã.
Torcida que mais fez a diferença pra você? Torcida do Vasco.
Torcida adversária que mais incomodava? Acho que a torcida do Flamengo.

A Visão de Lopes sobre o Vasco Atual e o Futebol Moderno

Antonio Lopes também avalia a fase atual do Vasco , expressando preocupação com a mudança de mentalidade no futebol brasileiro. Para ele, o clube tem potencial, mas precisa de uma melhor formação de time e de uma valorização da base.

"O Vasco conseguiu a classificação para passar mais uma etapa. Eu acho que o time pode melhorar. O Vasco tem um elenco bom, eu acho que está faltando é formar um time. (...) Antigamente a gente começava a construir um time num tempo e levava ainda um tempo para formar, mas agora eles não fazem isso. Eles vendem jogador, não aproveitam os garotos da base, o Vasco sempre teve uma base boa. Quer dizer, não é como antigamente, por isso é que está pecando," analisa Lopes. Ele lamenta a transição de um futebol focado em títulos para um onde a luta é pela permanência: "Antigamente todo mundo lutava para ganhar título. Hoje em dia, luta para não ser rebaixado. Então isso é muito ruim, é muito ruim pensar assim, eles pensarem e não trabalharem para isso."

Lopes reflete sobre a pressão do futebol na saúde dos treinadores. "Eu acho que é estressante para o treinador. Acho que pode atrapalhar um pouquinho a saúde. Você tem que estar sempre se policiando, atento para poder não sofrer tanto," afirma, mencionando um problema cardíaco em 1999, cuja causa ele não atribui diretamente ao esporte, mas que hoje está sob controle. Aos 84 anos, o "Delegado" se considera realizado e acredita que é hora de dar espaço aos novos talentos da profissão.

Curtiu esse post?

Participe e suba no rank de membros

Comentários:
Recentes:
Mariana

Mariana

Nível: Semipro

Rank: 20186

Comentado em 16/09/2025 15:30 Respeito demais o professor Lopes, lenda do Vasco!
Vinícius

Vinícius

Nível: Semipro

Rank: 19560

Comentado em 16/09/2025 13:20 Lopes é gigante, Vasco é maior ainda, tamo junto!
Ranking Membros em destaque
Rank Nome pontos